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116 anos da descoberta da doença de chagas: avanços e desafios na luta contra a Tripanossomíase Americana

Abril é um mês simbólico na história da medicina, pois marca o aniversário da descoberta da Doença de Chagas, identificada pelo médico brasileiro Carlos Chagas em 1909. Desde então, a compreensão dessa patologia infecciosa evoluiu significativamente, mas desafios persistem. 

Este artigo aborda os avanços no diagnóstico, tratamento e prevenção da Doença de Chagas, bem como as lacunas que ainda precisam ser preenchidas para um controle mais eficiente da tripanossomíase americana.

Como surgiu? 

A Doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é uma infecção parasitária crônica causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Identificada pela primeira vez pelo médico brasileiro Carlos Chagas em abril de 1909, essa condição é considerada uma das doenças tropicais mais negligenciadas no mundo.

A descoberta da Doença de Chagas foi única na história da medicina, pois Carlos Chagas descreveu não só o agente causador da doença, mas também o vetor (o inseto triatomíneo), o ciclo de vida do parasita, a epidemiologia da doença e as manifestações clínicas principais. Ao longo das últimas décadas, o avanço nas técnicas diagnósticas e terapêuticas possibilitou um melhor entendimento da doença e de suas complicações.

No entanto, 116 anos após sua descoberta, a Doença de Chagas continua sendo um problema significativo de saúde pública, principalmente em áreas rurais e regiões empobrecidas da América Latina. A globalização e os movimentos migratórios ampliaram o alcance da doença para países onde tradicionalmente não era endêmica, tornando-a um problema de saúde global.

Aspectos epidemiológicos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que aproximadamente 6 a 7 milhões de pessoas em todo o mundo estejam infectadas pelo Trypanosoma cruzi. Embora a maioria dos casos esteja concentrada na América Latina, a Doença de Chagas já foi diagnosticada em países como Estados Unidos, Canadá, Espanha, Itália e Japão devido à migração de populações infectadas.

A transmissão ocorre principalmente através do contato com fezes de triatomíneos infectados (conhecidos popularmente como barbeiros), mas outras formas de transmissão incluem transfusões de sangue, transplantes de órgãos, transmissão congênita e consumo de alimentos contaminados.

Apesar dos esforços para erradicar a doença por meio do controle vetorial e triagem de doadores de sangue, a persistência da infecção em áreas rurais e o surgimento de novos focos de transmissão são desafios contínuos.

Diagnóstico da doença de chagas

O diagnóstico da Doença de Chagas pode ser desafiador, especialmente em estágios crônicos onde o parasita não está mais presente no sangue de forma detectável. Os métodos diagnósticos incluem:

  • Exames Sorológicos: Testes como ELISA e imunofluorescência indireta são amplamente utilizados para diagnóstico em fases crônicas.
  • Exames Parasitológicos Diretos: Indicados principalmente na fase aguda, onde o parasita é detectável por métodos como gota espessa e esfregaço sanguíneo.
  • Métodos Moleculares: Técnicas de PCR têm demonstrado alta sensibilidade e especificidade, sendo úteis especialmente em casos de transmissão congênita ou transfusional.

A detecção precoce da fase aguda da doenca é essencial para o tratamento eficaz da Doença de Chagas, especialmente em crianças e gestantes. No entanto, o acesso limitado a exames diagnósticos ainda é um problema em áreas remotas.

Tratamento

O tratamento da Doença de Chagas ainda é limitado a dois medicamentos principais: benznidazol e nifurtimox. Ambos são mais eficazes na fase aguda da doença, mas apresentam eficácia reduzida em pacientes crônicos. 

A forma crônica da doença, sobretudo a forma digestiva (megaesôfago e megacólon) assim como a forma cardíaca, tem grande impacto na qualidade de vida e mortalidade de seus portadores. 

No tocante a forma digestiva, o desenvolvimento de acalasia chagasica e megaesofago, espoliam o doente, levando a desnutricao severa. No passado, estes pacientes eram tratados exclusivamente por técnicas cirúrgicas, com complicacoes nao desprezíveis, associadas principalmente ao status nutricional. 

O POEM (miotomia peroral endoscópica) vem como uma opção acessível, menos invasiva e sobretudo eficaz para tratar estes pacientes, representando um importante marco na história da doença. 

Prevenção e controle

A prevenção da Doença de Chagas envolve o controle vetorial, a triagem rigorosa de doadores de sangue e órgãos, monitoramento de gestantes infectadas para evitar a transmissão congênita e principalmente controle de alimentos que em seu processamento podem estar contaminados com o trypanossoma ( principalmente o consumo de açaí e caldo de cana). 

Além disso, o desenvolvimento de vacinas contra o Trypanosoma cruzi é um campo promissor, embora nenhum imunizante tenha sido aprovado até o momento.

A educação da população e a melhoria das condições habitacionais em áreas rurais são fundamentais para reduzir o risco de transmissão. Campanhas de conscientização e o acesso ampliado aos serviços de saúde são estratégias essenciais para o sucesso das medidas preventivas.

Desafios atuais e perspectivas futuras

Apesar dos avanços significativos na compreensão da Doença de Chagas, muitos desafios persistem. A falta de acesso a diagnósticos precisos e tratamentos eficazes em regiões endêmicas continua sendo um obstáculo importante. Além disso, o estigma social associado à doença, dificulta o diagnóstico e tratamento.

A pesquisa científica continua avançando, com novas abordagens terapêuticas e diagnósticas sendo desenvolvidas. No entanto, é necessário um esforço coordenado entre governos, organizações não governamentais e a comunidade científica para promover o desenvolvimento de novas estratégias de controle e erradicação.

A Doença de Chagas permanece como um grande desafio em saúde pública na América Latina. Embora avanços importantes tenham sido feitos desde sua descoberta há 116 anos, a erradicação da doença ainda está longe de ser alcançada. 

Investimentos em pesquisa, desenvolvimento de novos tratamentos e estratégias preventivas são fundamentais para reduzir o impacto dessa patologia no futuro.

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